23.9.13

DES IGUAL

Sempre falo sobre equilíbrio, a importância de se manter estável em relação a todas as partes.
As partes, digo, que te compõe, que compõe o em volta e o coletivo.
Um tanto quanto impossível.
Impossível manter-se intacto a qualquer tendência, pendência que temos sobre alguma destas partes.
E isso varia, oscila e se alterna diacronicamente, porém sincrônico aos nossos processos.
Exijo isso de mim o tempo todo. E, segundo minha mãe, exijo isso dos outros também.
Não acho que seja verdade.
Acho inclusive que ora aceito a demasiada inconstância alheia, ora só deixo de lado.
Nunca a confronto.
Pensando bem, minha ideia de equilíbrio platônico pode muito bem ser traduzida em uma felicidade momentânea. Algo que me faça acreditar que estou em plena estabilidade.
Uma combinação ideal do valor de cada parte que funcione, compense, e me sustente.
Meu equilíbrio desigual.

Trilha sonora: Runaway - Del Shannon
9.9.13

pela metade

não quero ser resto de final de amor
não quero mais sentir as coisas como oportunidades, possibilidades,
quero senti-las por si só, por inteiro 

ultimamente tudo tem sido pela metade
talvez eu mesma esteja em partes
eu nunca sou inteira

acho que sou exigente demais
esperando que as pessoas me enxerguem por completo, direto, sem parar no superficial
impossível é querer delas, uma coisa que não estou, mas sou
isso confunde 
e até (me) ilude 
sobre as vontades

afinal, eu quero o simples
eu quero que me enxergue
que me olhe, me analise, me questione, me acrescente 
e não me veja como um parêntesis 
gostoso de companhia, passivo

eu não sou passiva
eu sou inteira 
gente 

Trilha sonora:  My Body is a Cage - Peter Gabriel 
14.8.13

NUMB

Às vezes eu deixo de pensar nas composturas, passo a sentir mais as texturas, as coisas que a gente vê mas não enxerga. É como um botão de liga/desliga, só que no automático, sem nenhuma embreagem para pressionar. E, por mais queira soltar e apertar o acelerador, ele não vinga, não existe. Eu fico sem pés.
Queria eu aproveitar esse momento para entender melhor o que está no meu subjetivo, mas quanto mais eu tento chegar perto da ideia, mais distante eu vou ficando de mim, meu corpo tá longe. E eu perco, me perco nos giros soltos que vou dando para cumprir as burocracias. Cambaleio pelas conversas, já não entendo mais de festas e muito menos de como me portar. É como se tivessem apagado tudo. Ou tudo tivesse perdido o sentido, as coisas parecem tão bobas.
O assustador é perder o tato e ao mesmo tempo visualizar tanta coisa, tanto detalhe. As coisas vão virando gente e a gente vai perdendo cor, ou pelo menos eu, eu perdi cor. Me apaguei, me deitei. E não consigo mais saber se o que eu sinto é nulo ou dor. Ou nenhum dos dois.
E eu fico indiferente a tudo. Vou passando, vou deixando, vou andando sem ninguém.

Trilha sonora: Oskar Schuster - Les Sablons

Au revoir
5.4.13

EXP. 01


1.4.13

Fascination ends

 A habilidade de negar sensações e percepções naturais em pró da convivência social já está totalmente integrada nos signos culturais. 
 Eu tentei, escrevendo e reescrevendo, por em palavras o que estava na minha cabeça hoje de manhã e, infelizmente, foi essa frase que saiu. Infelizmente porque ela não expressa nem metade do que eu queria dizer, mas até aí, talvez isso também não seja apropriado. Ultimamente os pensamentos já não se organizam mais em linhas na minha cabeça. Eles vem em imagens, sons e cheiros, como que sonhos que eu nunca tive. Confesso que já tentei, mais de uma vez, colocá-los de alguma forma aqui no blog, mas nada parece ilustrativo o bastante. É frustrante.
 Apesar de saber que um conteúdo subjetivo nunca vai conseguir ser traduzido e repassado por completo (de nenhuma forma), eu insisto em tentar, de todos os jeitos, compartilhar. É burrice pensar que vai ser de interesse geral, mas tem vezes que parece valer à pena. E é aí em que entra a frase inicial.
 Esses dias eu tive uma vontade imensa de colocar para fora algumas coisas da minha cabeça para uma pessoa que eu mal conheço. Talvez tenha sido por intuição, mas o que quer que seja, ainda foi insufisciente para permitir que isso acontecesse. A questão não é a conveniência de se falar ou não, e sim o que vem depois: uma necessidade quase que imediata de se explicar.
 É preciso explicar-se para tudo o que não é convencional, como se aquilo te atribuísse algum tipo de culpa. Como se qualquer reação inesperada precisasse de justificativa.
 Ao fazer algo pura e simplesmente porque deu vontade (quase que inconsciente), se não os outros, nós mesmo já começamos a nos perguntar o porque daquilo. O porque da vontade, as consequências dela, e por aí vai... Por mais efêmera que seja. Mas aí é que está: nem sempre a gente tem justificativa. Às vezes as coisas são e pronto. Elas só são.




Trilha sonora: Not in Love - Crystal Castles (ft. Robert Smith)

Au revoir